sábado, 24 de março de 2007

Gracinda Maranhão : Não é por sermos socialistas que não nos manifestamos contra uma decisão que consideramos errada


Consulados : Milhares de portugueses nas ruas de Paris contra decisão do Governo


Paris, 18 Mar (Lusa) - Milhares de emigrantes portugueses em França manifestaram-se hoje em Paris contra o encerramento de quatro postos consulares naquele país, acreditando ainda ser possível convencer o governo português a alterar a sua decisão.

Os manifestantes expressam o seu descontentamento através de palavras de ordem como: "Governo ganha juízo, os consulados não dão prejuízo", "Cavaco Presidente, não deixes maltratar a gente" e "Governo se queres calar a gente, tens que ser mais inteligente".

Os organizadores sublinharam o "sucesso" do evento que segundo eles reuniu "mais de cinco mil pessoas", enquanto fonte da polícia de Paris contactada pela Agência Lusa estimava a presença de apenas cerca de duas mil pessoas.

Foi a primeira vez que portugueses desfilaram no percurso de cerca de 2,16 quilómetros entre as praças da República e da Bastilha, um local emblemático das manifestações em Paris.

António Fonseca do colectivo de portugueses que organizou o evento estava no início "apreensivo" com a possibilidade de fraca participação por causa da ameaça de chuva mas no final mostrava-se muito satisfeito com a forma como o desfile decorreu.

"O que nos ajudou foi a determinação das pessoas", disse António Fonseca à Lusa, acrescentando esperar que as autoridades portuguesas "não voltem as costas aos portugueses no estrangeiro".

A manifestação teve à frente bandeiras nacionais, vários grupos de bombos e a participação da Filarmónica Portuguesa de Paris.

O deputado do PSD pelo círculo da Europa e ex- secretário de estado das Comunidades, Carlos Gonçalves, afirmou não compreender o "capricho" de governo português de fechar quatro consulados em França, apesar de apoiar uma reestruturação consular.

O membro da Assembleia da República eleito pelo PCP Jorge Machado também presente na manifestação de Paris, lembrou que o governo recuou em relação ao seu projecto inicial mas, mesmo assim, continua a "desrespeitar" as pessoas: "O governo devia melhorar os actuais consulados e não encerrá-los", sublinhou.

Por seu lado, a deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto ainda tem esperança que o governe "recue" e tome em consideração as necessidades dos actuais emigrantes, assim como "as novas rotas" que colocam "novos problemas" àqueles que continuam a sair de Portugal.

Além dos portugueses que vivem nas áreas consulares de Versalhes, Nogent, Orléans e Tours, cidades onde estão instalados os postos que vão encerrar, marcaram também presença os emigrantes de Lille e Toulouse.

Na proposta inicial, estavam previstos encerrar os consulados de Lille e Toulouse, mas o governo decidiu transformá-los em escritório consular e em vice-consulados respectivamente.

O presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas, Carlos Pereira, lançou um apelo ao governo português para "não ficar insensível" à manifestação de Paris e que tenha em conta o interesse nacional: "Lisboa está a cortar a ligação a muitos portugueses, o que é um acto gratuito", disse.

Presente também na manifestação, Maria Gracinda Maranhão, líder do PS português em França, insurgiu-se contra a reforma dos consulados que, segundo ela, não toma em consideração "a realidade no terreno" tratando os portugueses no estrangeiro como "quantidade negligenciável".

"Não é por sermos socialistas que não nos manifestamos contra uma decisão que consideramos errada" de um governo do PS, disse.


Mais de um milhão de portugueses e luso-descendentes vivem actualmente em França.

A reestruturação consular foi aprovada quinta-feira em Conselho de Ministros com o governo a recuar em relação ao projecto apresentado em Dezembro último, decidindo encerrar 11 consulados e não os 17 inicialmente previstos.

Em França, palco de 19 manifestações, contando com a de hoje, da comunidade portuguesa, vão encerrar quatro consulados em vez dos seis previstos.

Esta reestruturação é acompanhada da criação pelo governo do consulado virtual, que permite o acesos pela internet a todos os actos consulares excepto os que requerem presença física.


FPB.
Lusa/Fim

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